segunda-feira, 16 de junho de 2008

Introdução do Livro EU APRENDI! (Ed. Campos)

O ano de 2005 foi bem diferente para 16 pessoas. Éramos quase 60 mil no começo do ano. Havíamos preenchido um formulário na Web para nos candidatarmos a uma vaga de emprego e agora nos restava apenas aguardar. A qualquer momento nosso telefone poderia tocar, chamando-nos para participar de uma longa jornada seletiva. Estávamos procurando um emprego e, para alguns, essa seleção poderia levar apenas duas horas. Para outros, poderia custar mais de três meses de trabalho duro e intenso.

Todos nós tínhamos um propósito em comum: conquistar o emprego dos sonhos. Mais do que isso, procurávamos construir a carreira dos nossos sonhos. Digo sonho, pois, ganhar R$250 mil líquidos por ano tendo vivido, em média, apenas 27 primaveras, não é tão fácil assim. Vamos às explicações.

Estamos falando de uma remuneração de mais de R$20 mil líquidos por mês. Suponha que você esteja trabalhando, ganhando esse montante e sua carteira de trabalho esteja devidamente assinada. Para seu salário chegar a esse valor, você precisaria ter uma remuneração acima de R$30 mil por mês. Somando alguns benefícios, as contas poderiam facilmente passar dos R$400 mil por ano – ou cerca de 1.300 salários mínimos anuais. Ainda assim, não podemos nos esquecer dos custos do empregador, que a cada dia paga mais taxas e impostos. Uma empresa despende, em média, 70% de encargos em cima do seu salário. No final das contas, alguém teria que investir mais de R$600 mil por ano em você. Ora, definitivamente essa não é a regra que prevalece no mercado de trabalho. Isso sim é a exceção! Quantas pessoas pertencentes ao seu rol de amizade recebem mais de 100 salários mínimos por mês ainda na juventude? Se esse seu amigo for empresário de sucesso (ou filho desse empresário de sucesso), um músico famoso ou um craque de futebol, pode ser. Se não, imagino não ser tão fácil conhecer alguém assim.

Por conta disso, podemos dizer que O Aprendiz é a maior seleção de emprego do país, justamente porque promete empregabilidade em vez de simplesmente um emprego. Isso explica o grande sucesso comercial que é o programa: pico de 21 pontos no Ibope e uma audiência de milhões de telespectadores.

Milhares de brasileiros identificados com esse sonho.

Traçando um paralelo com os principais e tradicionais processos de seleção de trainees das grandes empresas nacionais e multinacionais do mercado brasileiro, os números chegam a 20 mil inscritos para 30 vagas. O páreo é duro, mas na seleção de O Aprendiz, os números são ainda maiores.

A rigidez em selecionar os executivos aprendizes não poderia ser diferente.

Os selecionadores pediam pelo menos pós-graduação, um segundo idioma e boa experiência profissional. Quase 60 mil inscritos foram analisados para se chegar aos 16 selecionados e terminar com um único escolhido.

Para estar entre os 16 selecionados, estamos falando em um percentual de escolha de 0,03%! Uma pessoa escolhida para mais de 3,5 mil inscritos!

Cada um dos 16 participantes deixou para trás milhares de pessoas, e à medida que o processo ia se afunilando, os currículos iam ficando cada vez mais “fortes” e “consistentes”. No programa, costumávamos brincar dizendo que na seleção “tinha gente com pós-doutorado na NASA, que falava 10 idiomas com 10 anos de experiência profissional em multinacionais”. Claro que estávamos forçando a barra e exagerando a situação, mas será que esse era o perfil ideal do participante? Não sei. Difícil de responder, mas posso afirmar que se essa pessoa não tivesse medo de vender pastéis numa feira-livre ao lado de um humilde comerciante, esquecendo os seus “pós-doutorados na NASA”, ela provavelmente poderia ter participado da competição.

E esse é o equilíbrio esperado de um candidato. Essa é a atitude que equilibra e distingue as características do empreendedor e do empresário.

O empreendedor “desce do salto” e faz o que for preciso para seu negócio ter eficácia. Já o empresário tem postura e conhecimento necessários para gerir seus negócios com eficiência. O resultado somado dessas características forma um grande líder, que tem como propósito inspirar as pessoas e gerar riquezas.

Os processos seletivos costumam analisar como nós pensamos e como podemos ser eficientes. Raros são os processos seletivos que analisam como é a cabeça e o coração dos candidatos conjuntamente. As empresas concentram-se em contratar apenas bons profissionais em vez de contratar ótimas pessoas que também são ótimos profissionais. Cada vez mais, o capital humano está no cerne das questões. Um profissional que aprende passa a ser a empresa. Passa a ser seu ativo mais importante. Já aquele que é apenas um bom profissional, não possui resiliência, não resiste às adversidades e seu aprendizado torna-se difícil. Não aprende porque não erra. Não levanta porque não cai.

Diversas pessoas, entre empresários e estudantes, ainda nos param nas ruas para perguntar como alcançamos aqueles resultados no curto espaço de tempo disponível. Outros ainda comentam: “Vocês tinham uma grande emissora de televisão por trás, assim fica fácil.” Não é bem assim. Lá, não podíamos contar com nada além de nossa imaginação. A regra é clara. Ao executarmos as tarefas propostas, era terminantemente proibido que nos identificássemos como membros do programa. Nem sequer o nome O Aprendiz poderia ser mencionado durante os contatos que fazíamos para compra de produtos, contratação de serviços ou obtenção de patrocínios.

Tínhamos de conseguir as coisas por nós mesmos, sem usar o peso da televisão e do programa para obter qualquer vantagem ou facilidade.

Todos nós aprendizes aprendemos lições importantíssimas para o resto da vida. Mais do que isso, aprendemos a aprender fazendo, pois a melhor maneira de fazer é ser, e a melhor maneira de ser é fazer. Vivenciamos uma experiência única, sendo líderes num determinado momento e sendo liderados em outro. Aprendemos sofrendo na pele com os nossos erros e acertos.

Em O Aprendiz, a identificação da punição e da recompensa é muito clara – basta lembrar as viagens e confortos oferecidos aos vencedores e do duro confronto e iminente demissão à espera dos perdedores na sala de reuniões. Por isso fizemos de tudo para conseguir vencer. Não é exagero dizer que três meses dentro de O Aprendiz equivalem a três anos de aprendizado no mercado de trabalho. Como disse Roberto Justos, no programa ele pôde avaliar melhor os candidatos no que diz respeito a habilidades como liderança ou negociação. Na vida real, porém, leva-se em conta o currículo e, principalmente, o feeling. Em O Aprendiz não adianta falar, contar vantagem, mostrar o currículo ou fazer pose. Você tem que realizar.

Toda escolha requer uma renúncia. Ao aceitar entrar na competição, tivemos que nos desligar dos nossos empregos atuais. Essa foi nossa primeira decisão difícil, pois sabíamos que pelo menos 15 dos 16 participantes teriam que passar pelo desafio da “décima sexta tarefa”. Feito longe das câmeras, o teste de voltar ao mercado de trabalho e ser um eterno aprendiz seria nosso último e principal desafio. Quer seja nas corporações ou empreendendo, todos nós estamos empregados novamente, mas este é apenas um pequeno detalhe. O importante é que continuamos aprendendo e crescendo.

Aprendemos a aprender e estamos aqui para contar como.

Boa leitura.

Fernando J. Wosniak Steler

Auto e Coordenador do livro Eu Aprendi!

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