Tudo parece fácil na teoria. Tudo parece fácil até que você se proponha a realizar algo importante na prática. Na hora de efetivamente fazer acontecer algo, nos deparamos com imensas dificuldades. Nessas horas, o óbvio nem sempre é tão óbvio assim.
Eu já tinha estudado a diferença entre a eficiência e a eficácia na escola.
Todo estudante de administração, logo nos primeiros anos de faculdade, é obrigado a prender tal diferença. Os mestres diziam com ênfase: eficiência é fazer certo as coisas e eficácia é fazer as coisas certas. E nós, jovens alunos, fazíamos aquela cara de quem entendeu tudo. Ledo engano. Não aprendemos naquele exato momento, mas acabamos aprendendo depois, ao realizar algo importante na prática. E creio que estamos aprendendo até hoje. Não há limites para o aprendizado. Conhecimentos, habilidades e atitudes são constantes que evoluem a cada dia. Sempre haverá espaço para mais. Podemos conhecer mais, podemos desenvolver mais habilidades e podemos ser mais proativos, sempre.
Em O Aprendiz, entendi perfeitamente o que é ser eficaz. Liderei meus colegas duas vezes, vencendo numa e perdendo noutra. Quando ganhei, fui eficaz, pois dei prioridade “ao que fazer”. Investi tempo no brainstorm e deixei a eficiência, ou o “como fazer”, para depois. Após o programa, João Amaro, irmão de Rolim Amaro e um dos juízes do nosso projeto de captação de recursos e lançamento de produto, respondeu a um e-mail meu com a seguinte frase: “Agora você entrou no clube dos ‘Amigos do Museu’ e, como tal, não será esquecido, tenha certeza disto.” Isso para mim foi a confirmação de que minha equipe fez o correto em dar primazia à eficácia. Já quando perdi, fiz exatamente o contrário, dei primazia ao “como fazer” e não coloquei esforços “no que fazer”, e por isso ouvi a temível frase de Roberto Justus: “Você está demitido!” No mercado acontece exatamente assim: temos que colocar a eficácia em primeiro lugar, deixando a eficiência para logo depois. Ambos os conceitos são importantes, mas, hoje em dia, de que adianta minha empresa ter os melhores índices de qualidade no processo de produção de máquinas de escrever? Cada vez mais a inovação supera em importância a otimização.
Aprendi também que somos aquilo que vendemos. As pessoas tendem a acreditar quando você fala sinceramente e sem delongas. Desde o começo da competição, eu me colocava como um apaixonado em lançamento de novos negócios. Fiz minha carreira como gerente de produto sem importantes empresas de tecnologia e havia deixado claro para todos os colegas que eu respirava inovação. Acreditava que o lançamento de novos produtos, serviços ou negócios seria uma das coisas mais importantes a se fazer dentro de uma empresa e que a conquista do mercado vem da inovação e da mudança. Na inovação reside o fluxo de caixa positivo que toda corporação precisa. Acreditei nisso por toda a minha carreira e preparei-me para tal – trabalhando, estudando marketing e finanças e aprendendo empreendedorismo com minha família, que sempre se empenhou em criar e conduzir seus próprios negócios. Vendi-me assim e, repentinamente, chegara a hora de parar de falar e passar a fazer. Nesse momento, pensei comigo mesmo:
“E agora (José)? Falei, falei, falei, porém existem milhares de pessoas querendo ver como é que se faz.”
Deu frio na barriga e realmente, se você parar para pensar, logo chegará à conclusão que isso tudo é coisa de maluco.
No reality show O Aprendiz ou no mercado, tudo é muito sério e você pensa que não pode errar, pois sempre haverá milhares de pessoas que o vêem, analisam ou o colocam à prova. Nesse momento, lembrei da minha preciosa coleção Os Pensadores. Mexendo nela algum tempo atrás, encontrei uma pérola, uma obra que recomendo a todos: Elogio à Loucura, de Erasmo de Rotterdam. Nesse livro quem fala não é o filósofo, mas sim a loucura, que sempre foi e será renegada pela maioria dos seres sãos da sociedade. Quem mais poderia falar bem de si mesma senão ela própria? Uma bela crítica aos racionalistas e ortodoxos de plantão. Muito atual. A vida, com todas as suas desventuras e percalços, seria horrível se uma pitada de loucura não suprisse-nos de uma certa incoerência. O que seria dos jovens se a loucura não os impulsionasse na direção do casamento? Não é mérito da loucura haver grandes amizades entre pessoas perfeitamente diferentes? Como o autor disse: “Está escrito no capítulo... hã..., qual versículo mesmo..., qual capítulo... do Eclesiastes: O número dos loucos é infinito. Ora, esse número infinito compreende todos os homens, com exceção de uns poucos, e duvido que alguma vez se tenha visto esses poucos.” Andy Grove, o principal executivo da Intel, também disse: “Só os paranóicos sobrevivem.” Existem riscos que não podemos deixar de correr. E existem riscos
que só verdadeiros loucos ou paranóicos correm e por isso mesmo conseguem chegar a um sucesso inimaginável. Tomei a decisão de participar de O Aprendiz num piscar de olhos, ou como diria Malcolm Gladwell (jornalista norte-americano, autor de bestsellers como Blink e O Ponto de Desequilíbrio), com “o poder de pensar sem pensar”. Penso que decidi certo, pois se me perguntarem faria tudo de novo.
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